Um banco de madeira bem envernizado. Um daqueles bem comuns, com curvaturas sutis em sua estrutura para confortavelmente receber as costas e traseiros de transeuntes cansados. Esse, em especial, tem pés pintados de um verde limo, um trabalho claramente amador, pois a tinta não está uniforme, provavelmente pintado pela comunidade local.
Penso se esse banco uma vez já tivera os pés pintados de outra cor, se abaixo desse negro verde limo há algum outro pigmento esquecido pelo tempo e imagino o ferro denso abaixo de todas essas camadas ser sufocado e enterrado, ser esquecido. Penso que junto de cada camada abaixo do verde limo existe uma história, o relato de uma geração anterior.
Nessas circunstâncias é praticamente impossível não antropomorfizar esse objeto, que, assim como os humanos, estabeleceu e estabelece relações, conheceu das mais ilustres até as mais medíocres personalidades, presenciou cenas chocantes e de certa forma já se pôs a bisbilhotar a vida alheia. Pense por exemplo em todas as histórias que esse enxerido já não ouviu da boca de uma dona de casa, dos lábios secos de um homem senil para um jovem infante, as broncas de uma mãe para seu pequeno monstro, ou as conversas dos cultos homens da alta sociedade sobre a situação econômica do país.
Cada canetão que já não sentira na palma do seu assoalho, cada flato que já não recebera na cara, cada cocô de pombo que já não recebera em teus braços. Pense em todas as árvores que vira nascer e morrer, em todas as crianças que vira envelhecer, em todas as senhoras que vira adoecer, cair na loucura, na senilidade. É como um ser humano, ouve a história, interpreta, armazena, extrai um significado ou reflexão e assim vai se tornando mais sábio, mais observador.   

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